"HISTÓRIA E FUNDAMENTOS ESTÉTICOS DO TRIBAL FUSION BELLYDANCE "
É na ritualística tribal feminina dos povos orientais que na verdade se
encontra o ponto de partida para se pensar os fundamentos estéticos do
Tribal Fusion Bellydance. Até aí para nós tribalistas nenhuma novidade!
Contudo, essa obviedade teórica a qual é sempre mencionada e discursada
por nós (bailarinas) àqueles que não conhecem o tribal, pode soar como
um código interno intangível dada sua riqueza de fatos, nomes, datas,
movimentos e estilos, portanto, cabe sempre chamar a digna atenção para
tradição dessa arte que não sendo milenar chama-nos ao berço das
manifestações grupais étnicas. E também que para os que se estão
iniciando nos estudos tribalísticos e procuram saber de seus fundamentos
achem sempre as informações sobre os antepassados dessa dança tão
curiosamente envolvente e instigante, é que cumprimos o ofício ético de
cada uma, de repassar o saber a quem quer conhecer, por que imergir na
sua História e saber-lhe a verdade, dançá-la é dá-se à compreensão.
A História do Fundamentos Estéticos do Tribal se inicia por volta de
1960 com a bailarina Jamila Solimpour que fez diversas viagens à países
do Oriente (mais precisamente desertos, áreas vizinhas e também povos da
Índia, ou seja, mais antigos que não haviam cedido a aculturação
promovida pelo capitalismo), durante essa temporada, ela começou a
observar que mesmo as culturas que jamais haviam mantido alguma espécie
de contato entre si (na maioria ainda nômades), conservavam curiosa
semelhança ritualística, em especial no que dizia respeito às danças
comemorativas e rituais (tais como os de fertilidade - razão pela qual a
Dança do Ventre sempre termina sendo associada à sensualidade e tomada
como ferramenta de sedução), dada a constatação de tantas semelhanças a
bailarina começou a elaborar uma profunda pesquisa a fim de catalogá-las
em estilos: Dança da Cimitarra, o Flamenco Cigano, a Dança Indiana,
Danças Folclóricas Étnicas, Dança do Ventre, Danças Islâmicas do
Tajiquistão, Dança Tailandesa, Dança das gueishas japonesas e Danças
Tribais da África Central, etc. Finda a pesquisa Solimpour arquitetou um
estilo de dança que englobava "os modus operantis" comuns a essas
tribos criando um estilo de congregação, surge o que chamaríamos de
"tribal primitivo", divulgando esse trabalho através da troupe Bal Anat.
Anos depois na década de 80 Carolena Nericcio que apesar do que se
acredita, pois ela não foi aluna de Solimpour, na verdade nem chegou a
conhece-la elaborou uma releitura do trabalho da mestra, criando aquele
que viria ser chamado de ATS (American Tribal Fusion), que consistia da
execução de passos comuns ao folclore das danças tribais sem uso de
coreografia, o passos deveriam ser conhecidos pelas as integrantes da
troupe, bem como deveriam ser de seu domínio a leitura de um jogo
altamente específico dos sinais que indicavam cada líder da dança e o
passo seguinte a ser executado. Nericcio não apenas dedicou-se a fazer a
apreciação da dança e da musicalidade, mas também do vestuário desses
grupos (tipicamente orientais, não utilizando a gama de objetos
industrializados utilizados na Dança do Ventre Moderna – Estilo Cabaret –
que ficou conhecido no mundo inteiro através da época dourada do cinema
na Hollyowd das décadas de 30 e 40), e mais uma vez foi buscar aquilo
que os identificava originalmente, ensinando e levando ao conhecimento
do público esse trabalho através da troupe Fat Chance Bellydance. Ainda
assim o ATS não pode ser designado como uma dança folclórica haja vista
que não possui uma raiz natural; pois, o ATS é sim, fruto de pesquisa e
catalogação, se instaurando como um “Estilo Tribal Folclórico
Interpretativo”, mas que de qualquer forma é uma clara e evidente a
necessidade anscentral de agrupamento visando união e evocação dos
arquétipos femininos antigos, unindo os conceitos que dantes eram parte
fechada, de rituais secretos que sairiam da ordem "templária" para as
cerimônias públicas, como por exemplo de casamento e diversas
festividades.
Outra característica é que essas danças não só tinham por intenção
manifestar religiosidade, mas de promover a união e manutenção dos clãs
femininos, a medida que mulheres tinham que se submeter a obediência de
um "senhor" em grupo, e se o era que ao menos se suportassem! Pode
parecer um pouco radical, mas imginem 5 esposas "de" um marido só
vivendo numa casa! É pra destelhar qualquer telhado!!! As festas
fechadas onde se enfeitavam e dançavam para si mesmas, estreitavam os
laços de afetividade que poderiam se desgastar em nome da competição
pela atenção do senhor (marido), deixando claro que toda manifestação
cultural por mais que aparente certa inocência ou caráter mítico
superior, geralmente tem também uma veia profunda e controversa,
possuindo função sua social bem definida. O que aparece de forma muito
interessante no tribal é que seus aspectos estéticos conseguem de modo
latente superar os ditames impostos pela cultura, não é belo só por que
pertence a cultura e segue o costume, não existem cânones pré-definidos,
é belo indeterminado, por que fascina, e vai além do que a razão possa
explicar, opera uma síntese mística não-sobrenatural,
música-corpo-bailarina, não existem partes, vê-se mesmo o espírito em
movimento, é alma que dança.
Mas o processo de evolução do Tribal não cessou, na década de 90 Rachel
Brice aluna de Shuhaila Solimpour (filha de Jamila) e de Carolena
Nericcio imprimiu ao estilo a força do tempo e do progresso,
utilizando-se de ritmos musicais modernos como: Hip-hop, Trance, Noise
Music, Rock entre outros, criando uma nova série de cadências e
movimentos que caracterizam o Tribal Fusion Bellydance, apesar de
embutir a música moderna à antiga, os passos tendem a evidenciar-se
ainda mais voltados à origem, os movimentos prezam pela força da terra e
a suavidade sinuosa das serpentes “o charme da serpente” (snake
charmer) Rachel junto às bailarinas Zoe Jakes e Mardi Love integram hoje
e troupe The Indigo, com coreografia que vão de um polo à outro entre o
antigo, contemporâneo e teatral. As tribos hoje são muitas e
diversificadas. O que se sobressai é, a captação a força essencial
contida nessas imagens, foi dessa sensação acidental ao fazer uma
pesquisa sobre danças tribais que se pode observar outra coisa muito
mais intrigante, e contraditoriamente implícita em toda sua exploração. A
pobreza do mito de beleza postado à mulher no Ocidente. Por que nos
damos ao trabalho de fazer tal afirmação?! Afinal de contas, não é
nenhuma novidade que a beleza não é algo exterior, é sim uma idéia, e
qualquer forma de representação remete apenas aos arquétipos desse
conceito universal.
A
beleza é da alma, insistimos em dizer assim "alma" porque o desejo é
aceder ao aquértipo, à idéia; a técnica é objeto, mas o objeto é trocado
pela emoção não se extinguindo na mera sensação, é bruxaria e encanto,
ora? Bruxas? Sim... A invocação é pagã de braços para o alto, não tem
nome ou cor, é feita de ar e terra, serpenteia pela luz da imaginação,
baila nas mãos endeusadas das mulhures mortais, bruxas! Não era isso que
a inquisição dizia das bacantes que dançavam nuas nas florestam?!
Possuídas sim! Mas não de espíritos maléficos, possuídas da fome de
viver, essa é a divindade interna de cada uma, bruxas que não seres
exóticos, estranhos, são àquelas que se reconhecem intimamente fêmeas e
como tal se deixam tocar pelo dom da natureza, pela ligação inexplicável
de sentidos e concepção, somos um bando! Somos o espírito das lobas que
uivam na noite se reconhecem pela dança, a modernidade vem apagando e
tirando isso da maioria das mulheres como exigência da massificação. Se
vêem e se solicitam como objetos, são a refeição de estômagos furiosos,
então as bacantes que sejam elas todas bruxas! Bruxas serão! Bruxas
repito! Que dancem a melodia dissonante da lua internecida, sem saber o
que é bem, sem separar o que é mal. Quer saber o que é ser tribalista?
Dance!
Parte deste texto pode ser vista no vídeo: O que é Tribal Fusion -
Realizado para o Interdepartamental do NUCFIRE - Faculdade Frassinetti
do Recife.
Retirado de:
http://aquariustribalfusion.blogspot.com.br/2009/08/historia-e-fundamentos-esteticos-do.html
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