terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Artigo: BUTÔ, KAZUO OHNO, DANÇA JAPONESA E EU?

por Letícia Sekito  15/07/2010
http://idanca.net/buto-kazuo-ohno-danca-japonesa-e-eu/

Letícia Sekito é diretora e dançarina da Companhia Flutuante. Trabalha com improvisação, criação coreográfica e performance. Formada pelo C.E.M – Centro em Movimento, Lisboa (90-96). Tem interesse na relação entre corpo, cultura e dança. Faz parte do Centro de Estudos Orientais, coordenado por Christine Greiner, e do Centro de Estudos em Dança, coordenado por Helena Katz.


Não me lembro exatamente da primeira vez que ouvi falar sobre butô, mas me lembro de ter uma pequena imagem feita na cabeça de algo que era estranho, misterioso, subversivo e japonês.
Diferentemente de muitos brasileiros, eu primeiro ouvi falar da dança butô e somente depois de Kazuo Ohno. Aqui no Brasil, Kazuo Ohno, butô e dança moderna japonesa são coisas que quase se confundem ou se fundem na maioria das vezes. E isso, eu fui me apercebendo devagar.


Por volta de 1996/1997, quando tinha acabado de voltar da minha formação em dança realizada em Lisboa, no estúdio que hoje conhecemos como C.E.M. – Centro em Movimento, dirigido por Sofia Neuparth, comecei a me apresentar com pequenos solos  e performances e fui sendo surpreendida por determinadas reações do público:

“Você faz butô?”, “O gestual das suas mãos parecem ser de dança japonesa…”, “Há algo no seu movimento que me lembra o butô. É butô?” E isso era muito estranho para mim.
Sempre respondi que realmente nunca fiz butô, que trabalhava com dança contemporânea, improvisação. Hoje, a única coisa que posso dizer é que o meu querido professor e artista Peter Michael Dietz (com quem estudei durante cinco anos em Lisboa) fez – entre várias outras coisas – parte de uma companhia dinamarquesa, a DanceLab, que trabalha no viés do butô. Mas confesso que, no fim dos anos 90, eu nem sabia exatamente o que seria esse butô tão presente no imaginário dos artistas aqui no Brasil. Comecei a me incomodar com isso e percebi que tinha de me aproximar desse butô, para saber porque havia pessoas que enxergavam essa conexão com o meu dançar.


Tive sorte. Em 1997, conheci o Kazuo Ohno meio de surpresa. Para ser mais exata, conheci um Kazuo presente no frenesi das pessoas que o esperavam encontrar para um workshop e espetáculo, no SESC Consolação, em São Paulo.

Confesso que fiquei muito cética e desconfiada com aquela comoção e sensação de idolatria frente a um artista que boa parte das pessoas ainda não tinha visto. Me perguntava: será que todas estas pessoas realmente conhecem o trabalho do  Kazuo? Será que já estiveram com ele mesmo? Ou seria a força do fenômeno “fama que antecede a experiência”? Ou este arrebatamento se deveria ao caráter exótico de um artista vindo lá do Japão, terra distante e já venerada pelo Ocidente, que faz uma dança outra, uma dança “fresca” aos nossos olhos de turista?


Curioso foi o workshop. Parecia que estava tão perto e tão distante do Ohno san. Acho que, por um lado, eu me sentia um pouco à parte do todo porque havia uma sensação mista de deslumbramento, respeito, expectativa pré-concebida na sala, e isso me desconcertava um pouco. Por outro lado, era complicado irmos recebendo algumas instruções mediadas de Ohno para seu filho Yoshito Ohno, de seu filho para o tradutor e finalmente do tradutor para nós, numerosos na sala. Sem contar que a duração do workshop foi curta, curtíssima. Trabalhamos com tudo muito simples, explorando imagens/metáforas, sensação do corpo para o movimento, imaginação, improvisação. Me lembro da imagem de uma flor que desabrocha. Muito simples. Nada muito revelador. Tranquilo. Simples.

Mas à noite, teatro lotado, público “expectando”, momento da apresentação de Kazuo, sempre acompanhado de seu filho Yoshito.


Mudança.



No momento em que o vi dançar realmente pude sentir e conhecer o outro Kazuo, o artista. O seu estar mudou o lugar, mudou concretamente o estar da maioria das pessoas, pelo menos daquelas que foram atraídas e envolvidas pela sua energia sincera, forte e amorosa.

Kazuo vibrava numa sintonia diferenciada, onde a expressão de pessoa, de arte, de comunicação e de existência plena se concretizavam num dançar/ser sincero e belo. E ainda muito mais. Patéticas parecem minhas palavras ao tentar descrever o que seria aquela dança ou o artista. Naquela apresentação, ao mesmo tempo nada “grandiosa” ou “espetacular”, no sentido que costumamos dar a um acontecimento cênico, mas incrivelmente poderosa. Algo que faz a diferença no mundo.
Eu poderia parar por aqui. Mas há outros Kazuos que se foram revelando com o tempo. O meu, nosso tempo. E o curioso é que fui conhecendo estes outros Kazuos aqui em São Paulo, longe do Japão, em diversas atividades artísticas, palestras e cursos realizados na Fundação Japão, no SESC São Paulo[1], ou em algum evento relacionado ao butô, e sobretudo, com a pesquisa da professora Christine Greiner e do Centro de Estudos Orientais, que me ajudou a abrir caminhos para novas perguntas, novos desfrutes e enriquecedores olhares sobre: o corpo japonês, o  butô, o próprio Kazuo e Tatsumi Hijkata, Min Tanaka e outros artistas deste movimento ligados ao cinema  e teatro, à fotografia (Eikoh Hosoe), à literatura e à poesia, e sobretudo, a uma reflexão sobre os contextos cultural-artístico e político-social do butô no Brasil e no mundo.
Não somente eu, mas várias outras pessoas conheceram e vão conhecer ainda um outro Kazuo: o Kazuo Memorável, documentado através de registros em vídeos, fotos e em testemunhos de artistas, pessoas próximas, alunos e admiradores, sem falar do mundo virtual, no próprio site do seu estúdio, no youtube e aqui no idança.
Mas há um Kazuo, que recentemente está mais presente e que me assusta muito mais do que me estranha.
É o “Kazuo Ohno-Selo de Garantia”, que faz parceria com o “Butô -Selo de Garantia”. Não é de agora, mas com o falecimento de Kazuo, temos de observar muito bem como seu nome é e será citado, usado e divulgado.
Agora como nunca ele é selo de garantia, é marca.


Vemos muito disso por aí: no Youtube, nos currículos artísticos, em projetos de pessoas que fizeram um workshop de um dia, uma semana ou um mês e que dizem que dançaram com Kazuo Ohno, ou aqueles que se mascaram com maquiagem branca, fazem movimentos lentos, espasmódicos, “sofridos”, que dançam a vida/morte, o útero/a mãe/natureza, e cedem ao devaneio e aos “impulsos internos” e que por isso, dizem: faço butô. E se por sorte ainda têm “olhos puxados”, daí é garantia total. “É Kazuo, é butô, é de vanguarda? Pode consumir.”

Muita nebulosidade neste momento.
Que tal irmos com calma?


Butô foi um movimento artístico de vanguarda. Surgiu num contexto bastante específico em uma Tóquio pós-guerra, nos anos 50 do século passado, envolvendo artistas da dança, do teatro, da performance, do cinema, da literatura e das artes visuais. A repercussão do movimento foi forte, mas desagradável no Japão, muitos artistas para não passarem fome ou para cuidarem da sua saúde imigraram para o Ocidente, para o lugar onde o butô obteve um forte reconhecimento. Os artistas se adaptaram e se reinventaram em terras estrangeiras.



Mudanças.



Outro momento para o butô. Os artistas mudaram.

Mas o Ocidente ainda não se cansa de etiquetar dançarinos japoneses em “butoh dancers”, mesmo quando os próprios artistas não se vêem como tais.
Agora o butô vê seus precursores Hijkata e Ohno falecidos.  E agora temos Kazuo Ohno – Selo de Garantia, ou como já ouvi falar Kazuo Ohno –  “uma grife”.
Como se configura o butô hoje em dia?
Será possível se fazer  butô hoje em dia?
De que butô estamos falando?


Kazuo Ohno não se interessou em desenvolver um sistema de aprendizado do seu butô, generosamente compartilhava sua experiência de vida e arte com quem quisesse participar de suas aulas abertas e gratuitas. Não pensava em “ensinar butô” a ninguém, e não nos deixando um método seu, como fez Hijikata em seu “butô-kabuki, (…) um possível método de ensino e de formação de jovens artistas”, talvez tenhamos que nos contentar em ficar com vestígios e rastros valiosos, os felizardos que puderam ver Kazuo em cena, guardarão em seus corpos memórias de um lindo Kazuo.

Talvez o nome do evento  “Vestígios do Butô”, realizado em 2004, também no SESC Consolação, nos dê uma boa pista sobre o futuro do butô. E talvez não seja interessante  ficarmos procurando por ‘fazedores de butô”, ou nos “herdeiros do butô Kazuo Ohno” (ai que medo!).
Em uma conversa muito interessante como a pesquisadora Christine Greiner, coloquei a dúvida de como olhar para o butô hoje, já que sabemos que não é por copiarmos os movimentos lentos com concentração de energia interna do movimento ou pintar o corpo de branco e lidar com os temas da morte/vida, “dançar uma flor ou pedra” ou seja, copiar uma “estética butô” para se fazer butô.


O que nos resta hoje?

Memórias, vestígios, traduções, aproximações, conversações?!…
Talvez pudéssemos observar trabalhos artísticos que possam dialogar, se conectar, se tocar com a questão do “corpo em crise”, mas querer ser, fazer, ter butô na sua dança? Talvez seja um grande equívoco a ser evitado.

Momento difícil, reconhecer a perda.

Hanami: Cerejeiras em flor

Uma dica de filme para quem curte um Butoh. Participação de TADASHI ENDO !!

Lindo filme!





domingo, 28 de setembro de 2014

Butho - Kazuo Ohno


Um pouco da técnica de Butho/Butô para quem não conhece.Tive que estudar muito sobre essa técnica para que eu pudesse aplicar ideias sobre ele em minha composição coreográfica.


Estou curiosa para saber como isso seria aplicado na técnica do Raqs Sharqi. Se não for para rir, então, choremos!

domingo, 20 de julho de 2014

Texto histórico...

Encontrei na web, um texto interessante sobre a história da dança do ventre. É um resumo beeem superficial, mas bom.

Colocarei aqui o trecho que concordo mais. O texto pode ser lido na íntegra no endereço: http://danca-do-ventre.info/mos/view/Estilos_de_Dan%C3%A7a/Estilos_de_Dan%C3%A7a/Estilo_Eg%C3%ADpcio/

"Teorias dizem que a dança era presente em rituais religiosos que veneravam a deusa da fertilidade. Percebemos que, desde então, o corpo feminino é o maior instrumento da dança e só ele tem a capacidade de materializar a música.
 
Alguns historiadores depositam maior crédito ao Egito como a origem mais provável da dança do ventre, pois encontraram vestígios de movimentos da dança retratados em esculturas femininas dos tempos faraônicos. É possível relacionar esses dados à sua origem, porém, não se pode limitar seu desenvolvimento somente a este país.
 
Em 1798, durante sua primeira expedição científica na ocupação sobre o Cairo, Napoleão Bonaparte teve seu primeiro contato com a dança oriental por meio de uma festiva recepção das Ghawazees, dançarinas dos povos Tiziganes.

Características e referências atuais

Ao longo dos anos, as bailarinas do estilo egípcio ganharam fama por se diferenciarem das do estilo geral. Há portanto, um grande leque de variações das interpretações dentro desta categoria como o acompanhamento do ritmo de um instrumento ao invés da melodia, ainda que existam dançarinas que executem passos sincronizados com o acompanhamento melódico. O estilo é um tanto leve, aparentemente muito fundamentado e tradicional. Assim como acontece  com todas  as danças orientais, a dança do ventre egípcia é profundamente mergulhada em seu folclore e nos temas relacionados ao Egito. Os ritmos musicais Saidi e suas variações são muito comuns.

É interessante frisar que o surgimento da Era de Ouro advém do estilo egípcio e de outros mais modernos, e foi um período caracterizado pela ascensão e referência às dançarinas egípcias mais famosas entre os anos 1920 e 1950. A dança moderna e elementos do balé foram inseridos como forma de tendência nessa época.

Na primeira metade do século XX, discotecas locais foram responsáveis por formalizarem os principais movimentos da dança do ventre como elementos na dança informal e folclórica do Oriente Médio e nomearam de Raks Sharki, dança do Oriente. A indústria do cinema árabe, baseada principalmente no Cairo, ajudou a expandir a dança oriental por todo o mundo.
 
Duas formas principais das danças tradicionais estão associadas com a dança do ventre: A Baladi, estilo folk de dança das tribos árabes que se instalaram no Alto Egito e a Sharqi, que baseia-se na Baladi, mas que foi desenvolvida por dançarinos que conquistaram fama durante os anos dourados da indústria do cinema egípcio. Ainda que os movimentos básicos da Raks Sharki permaneçam inalterados, a forma de dançar continua a evoluir, sendo acrescentado elementos do balé.

Apesar de o Egito ser considerado o Santo Graal da dança do ventre, a dança não é vista com bons olhos pelos egípcios, que não consideram uma profissão respeitável, já que as dançarinas expõem a barriga, logo, a maioria por lá são estrangeiras, incluindo brasileiras. As egípcias não têm permissão de realizarem determinados movimentos ou algum trabalho solo, já que tais atitudes violam a constituição e ferem as tradições da sociedade.

Desde os anos 50, a dança do ventre foi considerada ilegal por ser executada publicamente com excessos de pele exposta. Portanto, é cada vez mais comum o uso de vestidos longos de lycra, com tecidos estrategicamente colocados preenchendo os recortes. Se o top e a saia estão separados, um cinto raramente é usado, e qualquer adorno é bordado diretamente na saia elegante.

Bailarinas do estilo egípcio tradicional dançam com os pés descalços, apesar de atualmente, graças ao surgimento de grandes espetáculos, sobretudo no Egito e Líbano, muitas se apresentarem com sapatos de salto alto como forma de demonstrar ascensão social. O uso de sementes que chacoalham emitindo um determinado som para cada movimento era utilizado como adorno nos quadris no Antigo Egito.

Manifestações sutis dos quadris, domínio dos tremidos, deslocamentos básicos adaptados do Balé e movimentação básica de braços e mãos são princípios desse estilo.

Atualmente, com amplas mudanças conceituais, é comum haver apresentações de dança do ventre em festa de casamento. Tradicionalmente, os noivos desenham as suas mãos no ventre da dançarina, simbolizando uma referência ao relacionamento da dança aos cultos da fertilidade. Nos maiores festivais realizados no Egito, Líbano e Turquia, as dançarinas mais famosas apresentam-se acompanhadas de grandes orquestras".
 
 
 
mais uma vez, cito a fonte, para quem quiser ler o texto na íntegra: http://danca-do-ventre.info/mos/view/Estilos_de_Dan%C3%A7a/Estilos_de_Dan%C3%A7a/Estilo_Eg%C3%ADpcio/ 



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Esclarecimentos...

Olá bailarinas! Como estão?

Bem, inicialmente, gostaria de esclarecer que nunca tive a intenção de ser "blogueira" e fazer posts no blog de modo mais contínuo. Este blog é de anotações pessoais e de coisas bacanas que acho na web e coloco aqui...

Não o abandonei, mas também não tenho interesse em tornar o blog mais popular. Gosto da forma como está!!

Atualmente estou lecionando danças lúdicas para crianças, dança contemporânea para adolescentes e dança do ventre para mulheres adultas. A experiência tem sido incrível. Também continuo com as minhas pesquisas em dança. Vivo, respiro, durmo dança. A dança é o meu estudo, o meu trabalho, o meu hobby. É tudo.  Estive envolvida em trabalho de composição coreográfica durante todo o 1º semestre de 2014 (em dança contemporânea) o que me impossibilitou de realizar outras atividades. Tive que fazer escolhas. Embora isso tenha acontecido, a experiência foi bem legal e pude obter feedbacks de um público novo, não relacionado à dança do ventre. Adorei o resultado final e o comportamento e retorno que obtive do público. Isso me motivou muito.

Enfim...
Espero que algumas anotações contidas aqui no blog possam servir para alguém de alguma forma, assim como servem/serviram para mim de alguma forma.. Minha ideia inicial é apenas o compartilhamento de informações.

Vamos dançar??
Estou indo!

Até a próxima!